Por Luiz Carlos Azenha
Prepotente, arrogante, dono do mundo.
É engraçado como o Brasil produz estas indispensáveis sumidades, que resultam da mistura do “sabe com quem você está falando”, com títulos nobiliárquicos e marketing pessoal — algumas vezes custeado por terceiros (o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fez isso com o dinheiro do Banco de Boston; o ex-presidente da Vale, Roger Agnelli, fez isso usando dinheiro da empresa).
Gilmar Mendes se enquadra na mesma categoria, enquanto não está usando o cargo para vender ensino à distância.
Nenhum deles seria capaz de sobreviver sem o comportamento peripatético de jornalistas bajuladores, que trocam afagos públicos nos jornais, nas emissoras de rádio e de televisão por notícias exclusivas.
Estes “monstros sagrados” se adaptaram perfeitamente ao oxigênio rarefeito daquela esquina onde os negócios se encontram com a política.
Eu me lembro, quando era correspondente da TV Manchete nos Estados Unidos, de ter viajado à França para cobrir uma visita do então presidente José Sarney. A França tinha interesse em fechar algum grande negócio com o Brasil. Providenciou-se o lançamento de um livro de Sarney em francês, por uma editora importante — Marimbondos de Fogo, se não estou enganado — e o lançamento de um vinho com o nome do presidente brasileiro na região de Aix-en-Provence.
Um jornalista francês, destacado para acompanhar a visita, comentou comigo durante uma das cerimônias: “Adoro o Brasil, mas vocês não deveriam se vender por tão pouco”.
Resumo da tragicomédia: só o Sarney e seus assessores, àquela altura, acreditavam que eram levados a sério pelos franceses.
O futuro ex-general Nelson Jobim se enquadra nesta categoria, de “homem fundamental”.
Um ás dos bastidores, das costuras entre quatro paredes, da autopromoção (civil, adorava se meter em uma farda).
Não resistiria a um dia no twitter se tivesse que explicar, por exemplo, como tentou, em uma única canetada, mudar a Constituição de 1988.
Mas, no Brasil, estes “indispensáveis” sobrevivem engabelando o chefe, como aquele nosso colega de repartição/redação/empresa que a gente sabe que é um tremendo enganador.
Chico Anísio retratou como ninguém o perfil deste brasileiro: uma cruza de Bozó com Rolando Lero.
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