Existem, a rigor, dois tipos de jornalismo. Um é o jornalismo de persuasão, feito à base de idéias. O outro é o jornalismo de insultos, feito à base de gritaria e denúncias vazias. É o confronto entre o raciocínio e o berro. O mérito maior do primeiro tipo é o de levar as pessoas a refletir. Reexaminar certas questões. Já o segundo tipo é uma contribuição vital para fixar nos corações e mentes tolices e malignidades — de tanto ser repetidas elas acabam ganhando ares de fato estabelecido.
Há no país um número considerável de seguidores desse segundo modelo. Exemplos recentes disso são as "denúncias" da revista Época de que o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) estaria praticando irregularidades na Agência Nacional de Petróleo (ANP). Alguns de seus pares e lacaios já reproduzem o assunto, sem considerar os fatos detidamente mostrados por Haroldo Lima, o principal alvo dos berros da revista.
Eis outro caso em que se aplica a grande frase de Eça de Queiroz: ou é má-fé cínica ou obtusidade córnea. As evidências são de má-fé cínica. Pela vontade dos trogloditas da mídia já teríamos de volta aquele clima do auge udenista do começo dos anos 1960, quando Leonel Brizola era impedido de falar em comícios e Miguel Arraes, então governador do Estado de Pernambuco, para participar de um programa de televisão em São Paulo entrou pelos fundos da emissora — na frente encontrava-se um grupo de mulheres de terço na mão dispostas a insultá-lo.
Era o que o historiador Leôncio Basbaum chamou, em sua obra História Sincera da República, de "O terror psicológico". A coisa funcionava assim: os jornais espalhavam boatos de toda ordem e a direita se aproveitava para criar movimentos minúsculos mas em profusão para passar a imagem de mobilização popular. Neste caso, a Época usa o “terror psicológico” pela segunda edição consecutiva. Na edição desta semana, o tom é abertamente de provocação barata a Haroldo Lima.
A reincidência da revista na farsa faz lembrar as famosas palavras de Karl Marx em O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte: "Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa."
A defesa da ANP, portanto, não é uma questão de ética ou de moral. É uma questão de lógica.
O autor das matérias marrons da Época é o conhecido Diego Escoteguy, que veio da Veja onde deixou um espantoso rastro de sujeiras.
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