quinta-feira, 14 de julho de 2011

Quando vem a tempestade, mão firme no leme.


Do blogue Tijolaço

Tal como ocorreu em 2008, também agora a crise econômica vai se desenhando sem que os Estados nacionais tenham capacidade de agir para evitá-la. Só que, ao contrário do que ocorreu daquela vez, não apenas os Estados nacionais não têm condições de socorrer o mundo financeiro, no momento em que o que é agudo se tornar dramático.
Porque a primeira fase da crise, mais pela retração que criou na economia que pelo socorro direto dos estados ao sistema, litralmente, quebrou os estados nacionais.
Um estudo Banco de Compensações Internacionais (um espécie de banco central dos bancos centrais) registra que a média dos déficits orçamentários anuais dos governos passou de 1% para 8% do Produto Interno Bruto (PIB). Já a dívida média dos tesouros públicos subiu de 73% para 97% do PIB.
Tudo isso seria administrável num cenário de recuperação econômica, que permitiria equilíbrio como o movimento mantém na vertical uma bicicleta. Mas as perspectivas de crescimento da economia dos países centrais é medíocre, como você vê no gráfico publicado hoje no The Economist. E o panorama só não é pior porque a Alemanha, maior dass economias da zona do Euro, tem uma perspectiva de crescimento pouco abaixo de 4%.
A situação, porém, é extremamente procupante, porque pode alterar, rapidamente, os fluxos internacionais de capital. O enfraquecimento do dólar frente às moedas internacionais está cobrando um preço alto às contas americanas. Embora tenha sido sempre, nos últimos anos, deficitário no comércio exterior, o saldo negativo da balança comercial americana não dá sinais de  ceder e até volta a crescer, sem que isso reflita um aumento da atividade produtiva no país.
A autorização para elevar a dívida pública nos EUA quer dizer, simplesmente, autorização para emitir e, implicitamente, isso só acelera a corrosão de sua moeda. E aumentar o controle do resto do mundo sobre essa dívida, hoje estimado em mais de 60%. Ou seja, uma prescrição de dose maior do mesmo “remédio” que os envenenou.
Os países emergentes precisam lançar todas as cordas e ganchos que os impeçam de ser arrastados num turbilhão de crise, diferente, mas não menos intenso, que o de 2008. Nenhum deles é suficientemente forte para detê-la, mas todos juntos são capazes de representar um apoio que nos permitar evitar o mesmo desastre.
O Brasil precisa, já e no médio prazo, fazer movimentos econômicos coerentes com o rumo que se quer dar ao país. Não podemos ser governados pela taxa Selic nem pelas previsões de inflação do mercado financeiro. Não há capital para investimento de longo prazo no país, exceto o do Estado, e os agentes econômicos internos não cuidam, em geral, de atividades de baixo e demorado retorno.
Mas é preciso coragem para contrariar o discuso dominante, que se expressa pela mídia.
Primeiro, assumir que o Estado vai assumir seu papel de líder na atividade econômica e privilegiar as atividades que produzam emprego, renda, infraestrutura produtiva e agregação de valor interno.
Isso quer dizer não apenas investimento, mas ações fiscais seletivas, onerando e desonerando aquelas atividades que não os gerem (como a exportação de produtos primários) e as que os produzam, como a produção industrial para a exportação, a elevação do conteúdo nacional na cadeia produtiva e o beneficiamento possível aos produtos de exportação agrominerais.
Mas isso apenas não basta. É preciso, sim, conquistar posições estratégicas na economia mundial.  Os chineses já o demonstraram e, talvez, isso só tenha sido possível porque é natural que lá os governos não tenham de enfrentar tantas pressões internas, sem nenhum tipo de louvor às circunstâncias em que isso ocorre.
O Brasil precisa de um discurso político para que a população consiga enxergar o rumo. O discurso técnico não é suficiente para criar este entendimento, por mais que possa ser intrinsecamente correto.
Todos os governos bem sucedidos tiveram um discurso nacional associado ao do desenvolvimento. Lula foi mais bem sucedida – como foi Vargas – porque a isso agregou a inclusão social.
É preciso que estejamos atentos a isso, tanto quanto às medidas econômicas adequadas frente ao quadro complexo do mundo.  Nosso governo não pode deixar de lado a comunicação direta com a população, muito menos esperar que a mídia se encarregue de revelar o projeto nacional.
Precisamos deixa-lo claro, por atos e palavras. A perda do discurso desenvolvimentista e sua sbstituição pelo discurso da prudência, embora esta seja indispensável, desmobiliza a vontade e a expectativa nacionais e pode representar um grande perigo político.
Porque é a força do povo a única força que pode sustentar o desenvolvimento do Brasil. Sem ele, sem sua vontade mobilizada, ficamos sem Norte. E prisioneiros dos problemas do cotidiano, na sua pequenez que se agiganta, com a falta de um horizonte.

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