quarta-feira, 20 de julho de 2011

Tailândia tenta reeducar transexuais em mosteiros


O noviço Pipop Thanajindawong (no centro) reza no templo 
De Janesara FUGAL (AFP)
"Eles têm regras aqui; dizem que um noviço não pode usar cosméticos, correr para todos os lados ou mostrar-se afeminado". Mas Pipop está convencido de que é mulher e de que a "reeducação" à qual está sendo submetido, no mosteiro tailandês onde está internado, será um fracasso.
Aos 15 anos, escondido em sua cela, aplica delicadamente pó de arroz no nariz e na face. "Não quero que meu rosto apareça gorduroso ou sujo, nem ficar com a pele fosca".
Seu gesto, no entanto, revela insubmissão. Pipop Thanajindawong, há dois anos, foi enviado a Bangcoc pela família para este templo, o Wat Kreung Tai Wittaya, perto da fronteira com o Laos.
Objetivo anunciado: "tornar-se homem".
Uma missão incompatível com um país onde a tolerância é grande em relação a todas as práticas sexuais, onde os homossexuais são aceitos e os transexuais são considerados um "terceiro sexo" à parte.
A Tailândia é, de fato, um dos países do mundo onde são mais numerosos. Mas sem dúvida, a família de Pipop não tem essa abertura de espírito.
O filho foi enviado para viver como um monge. Despertar ao alvorecer, coleta de esmola e estudos do budismo não o diferenciam dos outros noviços, nesta etapa pela qual todos os tailandeses passam, numa fase a outra de sua existência.
Mas ele acompanha também, às sextas-feira, um curso numa escola perto do templo, onde o provisor Phra Pitsanu destaca as evidências. "Você não pode ser outra coisa senão parte de seu gênero verdadeiro, que é ser homem. Enquanto noviço, não pode ser senão um homem".
Perfume e cosméticos são proibidos, assim como o canto, a música. E até correr. Mas as infrações não são raras.
"Às vezes, damos a Pipop dinheiro para ele comprar merenda, mas ele o economiza, para se oferecer essa espécie de máscara", lamenta o provisor.
"Não podemos mudar todos eles mas, sim, controlar seu comportamento, para fazê-los compreender que nasceram homens (...) e não podem agir como se fossem mulheres", comenta, apesar de confessar que três de seis desses estudantes diplomados decidiram, apesar de tudo, tornar-se mulheres.
O templo inaugurou o curso para jovens entre 11 e 18 anos, em 2008, como iniciativa do diretor precedente, Phra Maha Vuthichai Vachiramethi. Ele temia que os transexuais - ou "katoeys"- nos noviciados "fragilizassem a estabilidade do budismo tailandês".
Hoje, ele espera que outros mosteiros adotem seus metodos para "solucionar esse desvio de comportamento".
Esse discurso deixa indignado Natee Teerarojanapong, militante dos direitos dos homossexuais e das minorias, para quem tentar modificar a percepção dos adolescentes de sua identidade sexual é "extremamente perigoso".
"Esses rapazes vão acabar por se detestarem, porque terão ouvido os monges lhes dizer que a homosexualidade é nociva. É terrível para eles. Jamais serão felizes".
Phra Atcha Apiwanno, 28 anos, considera, também, que a sociedade tailandesa não é assim tão tolerante quanto parece. A estigmatização é tanta que ele desistiu. "Tornei-me monge para quebrar meus hábitos, controlar minhas expressões (...).
Quanto a Pipop, parece constantemente em luta interior. Precisou interromper seu tratamento hormonal, assim como seus vestidos; a maquilagem consiste, apenas, num pouco de pó de arroz.
Diz, no entanto, que depois dos estudos vai se submeter a uma cirurgia. E no final do curso vai criar, hurlar. "Serei, enfim, capaz de ser eu mesmo".

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