Foi  concluído o processo de privatização de três dos principais aeroportos  do País com ganho inédito para o estado brasileiro: além dos 25 bilhões  de dólares arrecadados com o leilão dos aeroportos de Brasília,  Guarulhos e Campinas, o governo ficará com 49% de controle dos ativos e  ainda auferirá um rendimento anual médio de mais de 5% ano sobre a  rentabilidade das operações (10% no caso de Guarulhos).
Resultados  bastante diferentes foram os colhidos com as privatizações, que agora  se sabe fraudulentas, conduzidas durante o governo Fernando Henrique  Cardoso. A maior estatal do país à época, a Vale do Rio Doce, foi  transferida a investidores por menos de 3,5 bilhões de dólares.
Era  outro, é verdade, o momento econômico vivido pelo País com taxas de  crescimento mais modestas e também uma menor abertura ao exterior. Mas  interpretações economicistas mal escondem o fato capital que a empresa  de mineração não era qualquer empresa, mas a donatária das maiores  jazidas de manganês e minério de ferro do mundo. 
Fonte: Brasil que Vai! 
Bens  que não passaria pela cabeça de qualquer um alienar sem adicionar a seu  valor a expectativa de finitude das reservas nem a crescente  importância que passaria a ter para um mundo em desenvolvimento obrigado  a proceder à instalação de uma formidável infraestrutura, toda ela  baseada em derivados do ferro.
A  transferência da empresa Vale do Rio Doce a interesses privados não se  constituiu numa venda, senão em puro escambo. Troca do incalculável  fluxo de riquezas capaz de ser gerado pelas operações da companhia por  participações de grupos próximos ao poder, em negócios ligados ao  comércio internacional de minério e da produção de aço.
Aqueles  que venderam a Vale não visavam os interesses nacionais porque essa  categoria de bens cobraria necessariamente salvaguardas de exploração  destinadas a remunerar o Estado pela importância estratégica do produto  explorado, o que de modo algum interessava aos executores da mal fadada  negociação. 
Como  estavam vinculados aos setores de comercialização, seus ganhos estavam  assegurados pelos contratos de longo prazo que as empresas a que eram  ligados fechavam nos bastidores, não lhes importando dessa forma a  fixação de uma remuneração justa, fosse pela valoração dos ativos fosse  pela estipulação de royalties e da fixação de taxas sobre as operações.  Ao contrário do que pode parecer, as comissões foram o quinhão menor dos  ganho ilícitos auferidos nessa história.
O  certo é que os prejuízos trazidos a nação pelas operações legais, porém  ilegítimas, representadas pela privatização da Vale precisam ser  discutidos abertamente pela cidadania. Não se constrói um país passando a  borracha em crimes lesa-pátria que subtraiam às gerações futuras o que a  luta dos pioneiros custou a vida para assegurar.
Mais  que punições, a discussão pública desse momento negro da soberania  nacional precisa ser realizada. E a Comissão Parlamentar de Inquérito,  que exponha a lógica econômica e os interesses que pautaram as  privatizações de empresas brasileiras, da Vale em particular, não deve  ser traída por conveniências políticas de momento. Quem o fizer, mesmo  sendo do partido do governo, que se prepare, junto com os ladrões  e traídores, para o julgamento da história.   

 
 
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