terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Restaurantes Populares são alternativa saudável e econômica para famílias maranhenses.


Pelo menos três vezes por semana, o casal de autônomos Gracielma Fernandes e Luis Carlos Fernandes vai ao Restaurante Popular do bairro Sol e Mar, em São Luís, para realizar uma das principais refeições do dia, o almoço. A qualidade da comida, a proximidade de casa e a economia que fazem ao almoçar no local são os principais atrativos para o casal, que agora cuida da pequena Luisa, de 10 meses. O almoço no Restaurante Popular custa apenas R$ 2.
“É uma comida balanceada, tem nutricionista, é muito gostosa e também é barata e isso faz muita diferença para a gente que é autônomo, que não tem um salário certo ao final do mês e que tem uma criança para criar. É tudo muito caro e a economia que a gente faz aqui ajuda a comprarmos as fraldas durante o mês”, relatou Gracielma Fernandes.
Além deles, aproximadamente 1.000 pessoas almoçam diariamente no Restaurante Popular do Sol e Mar. Assim como nas outras 12 unidades mantidas pelo Governo do Maranhão, na capital e no interior, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedes), o objetivo é promover a segurança alimentar de maranhenses em todas as regiões do estado.
“Os Restaurantes Populares atendem mais de 13 mil pessoas diariamente e são parte da estratégia do Governo do Maranhão para promover a segurança alimentar. Assim como as Cozinhas Comunitárias, eles são os chamados equipamentos públicos de alimentação e nutrição e integram a Rede Operacional do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan)”, explicou a secretária adjunta de Segurança Alimentar da Sedes, Lourvídia Caldas.
Desde o início de 2015, a rede de restaurantes tem sido reestruturada e ampliada. Além do Sol e Mar, na Região Metropolitana de São Luís, os Restaurantes Populares também estão presentes nos bairros da Cidade Olímpica, Coroado, Liberdade, Anjo da Guarda, São Francisco, Maiobão e em outras regiões do estado como Chapadinha, Zé Doca, Lago da Pedra, Pedreiras, e os recém-inaugurados em Grajaú e Açailândia.
Saúde e economia
Beneficiado com a ampliação da rede de Restaurantes Populares, o pedreiro Raul Denis Serra Araújo, de 29 anos, almoça e janta no restaurante do Sol e Mar de segunda a sexta-feira há dois anos. Ele também frequenta a unidade em família, com o tio e o irmão. Paciente renal crônico que necessita realizar hemodiálise regularmente, Raul possui muitas restrições alimentares e encontrou no restaurante a oportunidade de comer uma alimentação adequada e com economia.
“Aqui é uma facilidade para eu me alimentar. Tenho muitas restrições alimentares por causa do tratamento e não posso comer comida pesada e aqui a comida não pesa no sal, tem os nutrientes que a gente precisa e é por isso que eu almoço e janto aqui está com dois anos”, contou.
Quando questionado sobre o preço do prato, Raul não esconde a satisfação. “O preço é bom demais, um PF (prato feito) aqui perto custa R$12,00 e aqui a gente só paga R$ 2,00. Em casa a gente gasta com gás, na feira está tudo caro e aqui só pago R$ 2,00 numa refeição que não me faz mal”, destacou.
A auxiliar de serviços gerais e de cozinha industrial Marise Farias, desempregada há 8 meses, nos dias em que não está distribuindo currículos, leva os filhos Letícia, de 12 anos, e José Wilson, de 11 anos, para almoçar no restaurante. Além dela, família inteira gostar da comida. Marise afirma que o restaurante ameniza a situação vivenciada por conta da crise econômica.
“Se não tivesse estaria tudo mais difícil, seria muito mais caro fazer a comida em casa. A gente economiza no gás e na comida que precisaria comprar. Ainda bem que nós temos esse restaurante aqui”, contou.
Os Restaurantes Populares funcionam regularmente de segunda a sexta-feira, das 11h às 14h30 para o almoço e às 19h30 para o jantar. O preço da refeição custa apenas R$ 2,00, podendo qualquer pessoa frequentar a unidade, com prioridade para grupos sociais em situação de insegurança alimentar e nutricional.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

A batalha de Jenipapo e o Tesouro de Fidié, retratados em livro!


O nosso Maranhão, berço de grandes escritores e escritoras, poetas e poetisas, vai ganhar nas suas galerias da boa leitura, um novo escritor de estilo da literatura moderna, trata-se do Engenheiro Agrônomo, Administrador Público e Economista Milton Campelo, nascido em Campo Maior no Piauí. 

Na sua primeira obra literária, O Tesouro de Fidié,  o escritor retrata revelações e questionamentos, ocorridos no processo revolucionário que culminou com a Batalha do Jenipapo, 13 de março de 1823.

Esta batalha foi decisiva para independência do Brasil, onde maranhenses e cearenses se juntaram ao povo Piauiense em resistência as tropas portuguesas lideradas pelo Major João José da Cunha Fidié.

Bem amig@s, basta agora adquiri-lo quando for lançado, abaixo vai um resumo da obra feita pelo próprio escritor e que faz parte da capa do seu livro.

Por Milton Campelo*

O que é o Tesouro de Fidié? Quem foi Fidié?

O tesouro e o personagem se encontram e desencontram, antes, durante e após a histórica Batalha de Jenipapo, que ocorreu no dia 13 de março de 1823 no leito seco do rio Jenipapo, em Campo Maior  no Piauí, quando soldados  da tropa portuguesa enfrentaram a resistência de homens e mulheres daqueles sertões, no mais sangrento episódio entre lusitanos e nativos pela posse do território brasileiro.

Por que a bandeira piauiense é o único pavilhão das unidades federativas que ostenta uma data em seu corpo, exatamente essa da Batalha do Jenipapo?
A narrativa retrata a força que resulta do sentimento de unidade do povo quando o poder estabelecido extrapola seus limites de dominação e de resiliência. A Batalha foi um exemplo autêntico da saga humana de resistência e sobrevivência altiva, típica daqueles que vivem nos rincões do mundo.
O sentimento de luta presente no confronto persiste até nossos dias, notadamente pelo pouco reconhecimento do episódio pela narrativa histórica oficial.
O conhecimento dos fatos envolvidos naquele 13 de março de 1823, pode levar o leitor a questionar as veracidades de um outro episódio, o do dia 07 de setembro de 1822, consagrado  pelos historiadores como marco central da independência do Brasil.
Quem são os principais personagens envolvidos na Batalha do Jenipapo?
Especula-se que cerca de 1.500 homens e mulheres armados com foices, espadas, chuços, facões e espingardas de caça enfrentaram as tropas portuguesas comandadas pelo Major João José da Cunha Fidié.
O comandante Fidié venceu a batalha, mas perdeu a valiosa carga que asseguraria a manutenção de sua campanha de guerra. Isso é lenda ou verdade?
Desvelar esse mistério é fundamental para compreender parte de nossa rica história e a bravura épica dos heróis anônimos do Jenipapo.
Se o “Tesouro de Fidié” foi apreendido e isto foi a causa principal do insucesso da missão portuguesa, onde foi parar esse tesouro? Afinal, o que é o tesouro de Fidié?

INFORMAÇÕES DO EVENTO:

Quando?

O lançamento da obra acontecerá, justamente no próximo dia 13 de março, onde a batalha do Jenipapo completará 194 anos. 

Onde?

Na Livraria Sofia, no Shopping Rio Anil




*Milton Campelo é Engenheiro Agrônomo pela UEMA, com especialização em Administração na UFBA e Economia na USP, Gestor do Banco do Brasil por 25 anos, nasceu em Campo Maior/PI.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

"Temer é o chefe da quadrilha"

Por Conceição Lemes, no blog Viomundo:

10 de dezembro de 2015. Fábio Cleto, recém-exonerado da vice-presidência da Caixa Econômica Federal pela presidenta Dilma Rousseff, é preso na Operação Catilinárias, uma das etapas da Lava Jato.

Cleto faz acordo de delação premiada e afirma que o doleiro Lúcio Bolonha Funaro e o então deputado federal e presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), comandavam o esquema de cobrança de propinas de empresas interessadas em obter empréstimos do Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS).

Diz também que, embora tivesse o poder de indicar os projetos nos quais a Caixa deveria investir, suas decisões, na verdade, se pautavam pela conveniência de Cunha.

Em dezembro de 2015, a Catilinárias cumpre também mandado de busca e apreensão na residência oficial e no gabinete de Eduardo Cunha.

Em 1º de julho de 2016, Funaro é preso. Em 19 de outubro, Cunha também.

13 de janeiro de 2017, sexta-feira passada. Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) é alvo da Operação Cui Bono?, deflagrada pela Polícia Federal, que faz busca e apreensão em imóveis do ex-ministro na Bahia.

Geddel deixou a Secretaria de Governo de Michel Temer em 25 de novembro de 2016, acusado pelo ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, de fazer pressão para a liberação de um empreendimento imobiliário em Salvador, no qual tinha apartamento.

A Operação Cui Bono? (“a quem beneficia?”, em latim) é um desdobramento da Catilinárias, realizada em dezembro de 2015. Na época, a PF apreendeu um celular em desuso na casa de Cunha que, após ser periciado, acabou por revelar o esquema de fraudes na Caixa.

O aparelho continha intensa troca de mensagens eletrônicas entre Cunha e Geddel, que era vice-presidente da Caixa Econômica Federal de Pessoa Jurídica entre 2011 e 2013.

Relatório da Polícia Federal aponta que Geddel atuava “em prévio e harmônico ajuste” com Cunha, para facilitar a liberação de empréstimos da Caixa Econômica Federal a empresas e, em troca, receber propina.

Relatório da Polícia Federal da Operação Cui Bono? cita outro aliado de Michel Temer: o atual vice-presidente de governo da Caixa, Roberto Derziê de Sant´Anna.

Ele é apontado como participante do esquema de concessão de financiamentos do banco que funcionava mediante pagamento de propinas.

Derziê aparece na parte do relatório que detalha a operação para a liberação de um crédito de R$ 50 milhões para a empresa Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários, vinculada ao grupo Comporte Participações. O Comporte pertence à família Constantino, controladora da Gol Linhas Aéreas.

Detalhe: embora Geddel e Derziê sejam muito próximos de Michel Temer, a mídia se comporta como se o presidente não tivesse nada a ver com eles.

Conversei com o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) a respeito. Confira a entrevista exclusiva:

Por que essa blindagem?

Essa operação [Cui Bono?, que fez busca e apreensão nos imóveis de Geddel] chega direto no Temer, ele é o chefe da quadrilha.

Em que o senhor se baseia para fazer essa afirmação?

Dois episódios demonstram isso. No celular apreendido na casa do Eduardo Cunha em dezembro de 2015, tem uma conversa entre o Funaro (codinome Lucky), que era o operador de Cunha, e Fábio Cleto (codinome Gordon Gekko) sobre o Geddel.

O Funaro reclama que não aguentava mais o Geddel, pedindo dinheiro. Lá pelas tantas, o Funaro fala: se o Geddel não parasse, “vou foder ele com o Michel”.

É tal quando você pega uma criança fazendo algo errado e ameaça: “vou contar para o teu pai”.

Ou, quando se quer pressionar uma pessoa, você se refere sempre a alguém superior a ela.

Então a maneira que eles tinham de pressionar o Geddel para pedir menos dinheiro, era ameaçá-lo de contar tudo ao Temer.

Na apreensão da última sexta-feira, surge outra situação envolvendo uma polêmica com o Geddel. E de novo a inferência é a mesma. Se ele não parar, nós vamos ao Temer. No primeiro caso, era sobre o FGTS. Agora, é sobre empréstimos na Caixa Econômica, da qual Geddel foi vice-presidente de pessoa jurídica de 2011 a 2013.

Então, são duas operações, onde há referências expressas do Funaro que demonstram que o Temer é o chefe. Do meu ponto de vista, a simples análise das transcrições da Polícia Federal já demonstra isso.

É suficiente para dizer que o Temer é o chefe?

Se isso não é suficiente, vamos ao seguinte. No relatório da Polícia Federal sobre a Operação Cui Bono? aparece o nome do Roberto Derziê de San´Anna, atual vice-presidente de governo da Caixa.

O Derziê surgiu trabalhando com o Moreira Franco (PMDB-RJ). Depois, foi alçado a uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal.

Quando Dilma convidou Temer [em 2015, era vice-presidente] para ir para a SRI [Secretaria de Relações Institucionais], ele levou o Roberto Derziê, para ser o secretário-executivo.

Como o Temer acumulava a vice-presidência com a SRI, na prática, era o Derziê quem fazia toda a relação com os deputados, senadores, liberação de emendas.

Quando Temer sai da SRI, o Geddel é exonerado da Caixa, quem é colocado de volta?

É o Derziê, no lugar do Geddel.

Então, o Derziê trabalhou com o Moreira Franco, com o Geddel e com o Eliseu Padilha (PMDB-RS) na SRI.

Quando o Temer assumiu, por que o Derziê não foi nomeado logo vice-presidente da Caixa?

Porque ele ficou até o final, foi demitido pela Dilma e ficou em quarentena. Por isso, ele só pode ser nomeado no final do 2016.

Ele volta para a Caixa para ocupar a vice-presidência de pessoa jurídica, que é justamente a que vai lidar com as empresas.

O que demonstra isso?

Seletividade. Com todas as informações que constam no relatório da PF, por que o Derziê não foi preso ou levado coercitivamente? Por que também o Geddel não foi preso nem levado coercitivamente para depor?

Afinal, eles não têm foro privilegiado e pessoas com muito menos envolvimento estão presas em Curitiba e Brasília.

Por quê?

É uma proteção da própria Justiça.

Se pegarem o Geddel ou o Derziê, automaticamente eles vão pegar o Temer.

Por que a mídia não pediu a cabeça do Geddel ou do Derziê?

Por que ninguém - inclusive a mídia - achou estranho o Geddel, a quem Funaro se refere sempre como “boca de jacaré”, não ter sido levado coercitivamente?

Qualquer um dos dois que for preso, vai abrir a boca, vai entregar.

E se falarem, o Temer cai.

Veja bem. Se eu, um deputado, tenho condições com as informações disponíveis de apresentar para ti esse caminho, imagina a Polícia Federal, a Lava Jato.

Tudo isso seria do conhecimento tanto da Polícia Federal quanto da Lava Jato?

Claro! Se eu, sem os instrumentos que eles têm, simplesmente me baseando nos relatórios, estou fazendo as conexões, é evidente que eles sabem. Tudo o que estou te dizendo aqui eles sabem: o Derzié é o elo da quadrilha, e o Temer o chefe.

Eles têm o potencial para serem um novo Cunha?

Não. O Cunha é outro esquema. O Geddel e o Derziê faziam a ponte do Temer com o Cunha.

Tem três grupos. Um grupo é o do Senado. Quem comandava a relação do Senado com o Temer era o Jucá [Romero Jucá, PMDB-RR] e o Eunício [Eunício Oliveira, PMDB-CE], mas principalmente o Jucá. O Renan [Renan Calheiros, PMSD-AL] corre em faixa própria.

O núcleo da Câmara era comandado pelo Eduardo Cunha.

O Geddel, o Moreira Franco e o Padilha se articulavam com os interesses desses dois grupos dentro do executivo. Eles já eram instrumentos do PMDB quando o Temer era vice-presidente. Vieram do PMDB com Temer para dentro do palácio.

O Temer comanda os três grupos?

Quem administrava esses três grupos dentro do PMDB era o Temer, que presidia o partido. O Padilha era presidente da Fundação Ulisses Guimarães. Jucá, o vice-presidente. O Renan era presidente do Senado e o Eduardo Cunha, o presidente da Câmara.

E o Temer administrava isso tudo. Garantia o Geddel num cargo importante. O Moreira Franco, noutro.

Quando ele vem para o núcleo do golpe, ele monta um núcleo com os três caras mais próximos dele: Moreira Franco, secretário especial, Padilha, chefe da Casa Civil e o Geddel, secretário-geral. Foi para esse núcleo que ele trouxe os grandes projetos de privatização.

O silêncio da mídia é mesmo para blindar o Temer?

Exatamente. Como se o Temer não tivesse nada a ver com esses caras. Se a PF tivesse um mínimo de coerência com a conduta que tem tido com situações muito menos graves, ela teria pelo menos levado coercitivamente para depor o Geddel e o Derziê.

Para mim é mais uma prova robusta da seletividade, da falta de critério e da utilização política do poder judiciário no projeto do golpe.

Da mesma forma que o STF sabia que se afastasse o Renan do Senado, desarranjaria o golpe. Eles sabem que se pegarem o Geddel ou o Derziê, eles avançam o sinal muito próximo ao Temer.

Isso vale para a PF, Lava Jato, STF, MPF?

Claro, para o comando de todos os setores do Judiciário capturados pelo projeto do golpe.

Fonte: Blog do Miro

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Temer nomeia grileiro para diretoria do Incra

Novo diretor do Incra se tornou réu em 2008 por suposta
 irregularidades cometidas em sua 1ª passagem pelo órgão
É justamente a área que estará sob comando dele a partir da posse, na 3ª feira (10.jan). A nomeação é assinada pelo presidente Michel Temer e pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

O novo diretor do Incra, que se tornou réu em 2008 por supostas irregularidades cometidas em sua 1ª passagem pelo órgão, diz que a ação prescreveu sem que o mérito do caso fosse julgado pela Justiça de Mato Grosso.

Cardoso é advogado e presidente do PMDB de Cuiabá (MT). Ele assume a Diretoria de Obtenção de Terras e Implantação de Projetos de Assentamento do Incra. A nomeação foi publicada na edição de 2ª feira (9.jan) do Diário Oficial da União.

O escândalo ficou conhecido no Mato Grosso como “a farra com terras da União”. Ao todo, 30 pessoas foram condenadas no caso, mas não Cardoso.

Pelo menos 7 processos de desapropriação de fazendas para a reforma agrária foram investigados à época.

Em 1 dos casos, o esquema consistiu em fraudar os limites da fazenda que seria desapropriada, para abranger também terras devolutas. Ou seja, de propriedade da União.

Em outro caso, terras desapropriadas pelo Incra foram depois vendidas a particulares por valores muito abaixo do que realmente valiam, segundo o Ministério Público.

A nomeação de Cardoso é uma indicação do deputado federal Carlos Bezerra (PMDB-MT), conforme a mídia local.

O Incra é o órgão federal responsável por desapropriar terras e destiná-las ao assentamento de pequenos agricultores, processo conhecido como reforma agrária. Foi criado em 1970 e está presente em todo o país por meio de 30 superintendências regionais. O Incra também responde pela organização e assistência aos assentamentos rurais.

Outro lado

Procurado pela reportagem, o novo diretor do Incra, Cardoso, disse apenas que a ação não teve o mérito julgado e prescreveu.

O Incra disse que a nomeação de Cardoso foi aprovada pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), responsável por conferir os antecedentes de indicados a cargos públicos.

“Não há obstáculos à nomeação de Cardoso para o cargo. O seu nome passou pela análise da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi aprovado e encaminhado à Casa Civil”, disse o órgão.

O Incra também informa quais são as atribuições da diretoria que será ocupada por Cardoso:

“O Regimento Interno do Incra, em seu Artigo 79, estabelece que cabe à Diretoria de Obtenção de Terras e Implantação de Projetos de Assentamento (DT) ‘(…) coordenar, regulamentar, orientar e supervisionar as atividades de aquisição, desapropriação e incorporação de terras ao patrimônio do Incra; as atividades de seleção de famílias, promoção do acesso à terra e criação de projetos de reforma agrária e aproveitamento sustentável do meio ambiente e dos recursos naturais nos projetos de assentamento; assim como propor, supervisionar, controlar e acompanhar a implementação de convênios, contratos e instrumentos congêneres relativos a sua área de competência.” 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Temer é um Robin Hood às avessas

Por Carlos Fernandes, no blog Diário do Centro do Mundo:

De todos os desastres econômicos, políticos e sociais que o presidente Michel Temer conseguiu propiciar em menos de um ano ocupando a cadeira presidencial, o mais revoltante diz respeito à sua crueldade em relação à população mais pobre desse país.

Mais do que uma completa indiferença à camada social mais necessitada, Temer não só os abandona à própria sorte como os castiga violentamente numa contrapartida ao escandaloso financiamento dos arquitetos do golpe que agora se vê obrigado a sustentar.

Não que a incompetência e a irresponsabilidade econômica patrocinadas pela tríade Temer-Meireles-Goldfajn não tenham atingido a todos na farsante promessa de recuperação da confiança e dos investimentos internacionais.

O recém divulgado relatório do Deutsche Bank que colocou a indústria brasileira na última posição global não nos deixa dúvida sobre isso.

A questão é que para os amigos, os seja, o 1% mais abastado, o “Estado mínimo” se transforma numa verdadeira mãe cujos cofres sempre estão fartos e à disposição. A disparidade no tratamento dado aos “seus” e aos “outros” é simplesmente gritante.

Senão, vejamos:

Ao passo em que o aumento dado ao salário mínimo em 2017 ficou abaixo da inflação pela primeira vez desde 2003, o aumento dado ao judiciário – partícipe inconteste na derrubada da democracia – foi de até 41,47% ao custo de R$ 140 bilhões ao contribuinte.

Ao mesmo tempo em que saúde e educação tiveram seus investimentos congelados por duas décadas, o “Estado mínimo” sente-se obrigado a socorrer empresas de telefonia – privatizadas a preço de banana – com a singela quantia de R$ 105 bilhões.

Enquanto a Previdência Social e a Consolidação das Leis do Trabalho estão sendo destroçadas sob o cínico discurso de que é preciso tomar medidas duras para recuperar um país quebrado, o mesmo governo aumenta em centenas de milhões de reais as despesas de publicidade na grande mídia coronelista .

Esses são apenas alguns exemplos da política de exceção que o governo Temer vem praticando diuturnamente sem piedade, mas a lista de atrocidades segue desenfreada.

O mais novo alvo é o BPC (Benefício de Prestação Continuada) que refere-se ao auxílio de um salário mínimo pago a idosos com mais de 65 anos ou deficientes. Temer quer restringir o alcance desses benefícios. Quanto ao que farão os que forem prejudicados? Ao que parece, não é problema dele.

É uma sistemática cruel, mas que obedece de uma certa forma a lógica capitalista de acumulação de riqueza. Como o “bolo” é limitado e os mais ricos não abrem mão de ficarem mais ricos, a “solução” é retirar dos mais pobres num ciclo vicioso que só pode nos levar a uma verdadeira crise humanitária que inclusive já presenciamos no Brasil não muito tempo atrás.

O presidente serve caninamente a esse propósito porque além de ser simpático a ele, sabe que se transformou num entulho passível de ser descartado a qualquer momento. Abarrota os cofres capitalistas com as migalhas de quem já não tem nada porque assim acredita infantilmente obter misericórdia de um sistema puramente impiedoso.

Michel Temer é, por assim dizer, uma espécie de Robin Hood às avessas que tira dos mais pobres para dar aos mais ricos. O problema é que, diferentemente da personagem original, o nosso anti-herói não encontrará abrigo nem em um lado nem em outro.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Interseccionalidade na prática: descobertas e táticas

 Conferência realizada em 02/12/2016 no Rio de Janeiro.
Por Debora Albu*
Saindo de uma conferência sobre feminismo e enfrentamento à violência contra a mulher nesse contexto de 21 dias de ativismo só consegui sentir uma felicidade enorme, apesar do peso e da dor que esses temas nos trazem.
A felicidade vinha da materialidade que o conceito de interseccionalidade tinha tomado ali. Uma mesa composta por mulheres de diferentes gerações, cores, territórios, ancestralidades e experiências concretizou aquilo que a teoria, muitas vezes, fica aquém de dar conta.
O conceito de interseccionalidade – palavra que meu Word não reconhece — foi cunhado pela professora e ativista do movimento negro norte-americano Kimberlé Crenshaw, em 1991, no artigo “Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics and Violence Against Women of Color” (Mapeando as margens: interseccionalidade, política de identidade e violência contra mulheres não-brancas; tradução livre*) na Stanford Law Review. A interseccionalidade seria como uma lente, um dispositivo metodológico para ler uma diversidade de opressões incidindo sobre cada pessoa — e cada mulher — de formas diferentes, gerando não um somatório de opressões, mas sim, novas formas de opressão qualitativamente distintas.
Uma mulher negra, por exemplo, sofre racismo e machismo não apenas como sistemas opressores que se somam, mas como sistemas que se relacionam e se modificam gerando outro tipo de opressão. O mesmo ocorre para mulheres de diferentes classes, territórios, ancestralidades, estéticas, identidades e expressões de gênero, sexualidades, habilidades, corpos e assim por diante, ad infinitum, afinal cada experiência é única e relevante.
Em seu texto, Crenshaw elabora o conceito à luz de casos jurídicos de mulheres negras norte-americanas em questões como violência doméstica, violência sexual, direitos trabalhistas. Tais mulheres não puderam ter seus direitos garantidos perante a lei, pois precisaram optar por processar seus agressores ou pela lógica do sexismo ou pela lógica do racismo e não pelo conjunto com o qual essas opressões lhe afetavam.
Hoje, cada vez mais tem se falado em interseccionalidade não só como como um aporte metodológico, mas também como uma identidade política. Isso traz uma questão: como ser interseccional em nossas práticas enquanto feministas?
A mesa que assisti foi um exemplo. Vi ali a concretização da uma mistura qualitativa de discursos e identidades que produziu um caleidoscópio quase literal: visões e posições distintas que somadas geraram terceiras, quartas, quintas, múltiplas composições. Tais composições não eram uníssonas, nem representavam consensos, representavam exatamente a diversidade e pluralidade de vozes do movimento feminista no Brasil e, nesse caso específico, no Rio de Janeiro.
Participaram da mesa quatro integrantes: Nilcéia Freire, ex-secretária da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do governo federal; Marcelle Decothé, ativista pelos direitos humanos pela Anistia Internacional; Vilma Piedade, coordenadora da RENAFRO (Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Eleutéria Amora da Silva, fundadora e coordenadora da ONG CAMTRA (Casa da Mulher Trabalhadora). Cada uma ali trazia consigo um conjunto de múltiplas identidades: jovens, avós, negras, nordestinas, periféricas, do candomblé e, por isso, cada vivência e discurso foram únicos.
Ao mesmo tempo, entre elas, no público presencial e no público virtual (a conferência foi transmitida ao vivo), havia uma quantidade enorme de conexões e identificações, que nos aproximavam e nos permitiam trocas objetivas e subjetivas de saberes.
Saí do debate convencida de que precisamos ser interseccionais todo dia, em cada resistência. Ter empatia na fala, saber escutar antes de dizer. Não sei a vivência daquela pessoa, não sei o que marca ela, não sei o que ela passou. Quando colocamos isso em suspenso, abrimos espaço para o outro, o novo, aquilo que simplesmente não sabemos. Porque não temos como saber. Abrimos espaço para criarmos conexões, mesmo que finas e quase invisíveis, sobre aquilo que é comum entre eu e aquela pessoa.
Mas e além de ouvir, o que acontece quando abrimos espaço para essa diferença? Não sei se tenho uma resposta, mas tenho certeza que produzimos algo a partir desse encontro. Mesmo que seja algo duro de ouvir, de sentir e de lidar. Algo que nos ajuda a moldarmos nossos feminismos de forma propositiva, em direções mais múltiplas e, por isso, mais coletivas.
O movimento feminista no Brasil tem se de/parado com o debate de vertentes de uma forma tão intensa que, muitas vezes, produz uma paralisação efetiva de diálogos importantes para produzir tais direções de um caminhar mais coletivo. Que fique claro: não defendo um consenso ou unidade, mas sim, como coloca impecavelmente Chandra Mohanty, a “diferença comum”, que nos permite “ver melhor as conexões e comonalidades […] e explicar tais cruzamentos de fronteiras […] a fim de construir coalizões e solidariedades através dessas fronteiras.” (Mohanty, 2003, p. 505; tradução livre).
Que busquemos isso coletivamente nas interseções do nosso caminhar. Juntas.
*A tradução literal de “women of color” seria mulheres de cor. Todavia, essa expressão não cabe mais em nosso vocabulário enquanto movimento. Dessa forma, escolhi o termo “não-brancas”, posto que a autora visava endereçar mulheres negras, latinas, indígenas e uma gama de diversidade que pode ser traduzida por essa expressão.
Referências
Crenshaw, K. “Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and Violence Against Women of Color”. Stanford Law Review, Vol. 43, Julho 1991, p. 1241 – 1299.
Mohanty, Chandra Talpade. “Under Western Eyes” Revisited: Feminist Solidarity through Anticapitalist Struggles. Signs, Vol. 28, N. 2, Inverno 2003, p. 499-535.
Autora
Debora Albu é é mestra em Gênero e Desenvolvimento pela London School of Economics. Faz parte da rede Agora Juntas, que visa construir um espaço colaborativo feminista no Rio de Janeiro e colaboradora da Revista Capitolina. Acredita que a micropolítica é a forma de resistir (pelo menos por enquanto).