Imagem: Benigna Soares/Oficina Consultoria CI/Norte Energia |
Moradora de Altamira, no sudoeste do Pará, Geisiane hoje é técnica de administração e pedagoga e transformou o que era hábito em ação. Ela encontrou um destino sustentável para as toneladas de caroços de açaí extraídos diariamente no seu estado: os resíduos agora são transformados tijolos
Geisiane teve a ideia de usar os caroços como matéria-prima pensando em reduzir os resíduos gerados na extração da polpa do açaí. Se descartados de forma irregular, os caroços podem causar problemas que contribuem para alagamentos e assoreamento em canais e vias públicas. Uma empresa que produz tijolos curtiu a sua idéia e já se interessou em produzir.
A Ecoa, Geisiane contou que a ideia surgiu na Oficina Despertar, no Programa Belo Monte Empreende. Nessa oficina, jovens de 18 a 29 anos foram instigados a criar uma ideia sustentável que pudesse ser positiva para na cidade e região. O açaí foi escolhido porque apenas uma pequena parcela dos caroços é usada para adubo e compostagem. A maior parte é descartada em aterros sanitários, segundo a pedagoga.
"Por isso decidimos dar uma finalidade útil para esses caroços. Os primeiros dois protótipos [de tijolos] eram menos resistentes e os outros sete já tiveram uma resistência além do esperado. No momento, estamos aguardando o resultado de outro teste que está sendo feito em uma faculdade por um engenheiro civil para darmos andamento à confecção desses tijolos, que poderão ser usados das mais diversas formas", detalhou.
Areia, cimento e caroços
Para chegar à forma de tijolo, os caroços de açaí passam por um período de secagem ao sol. Em seguida, são triturados e então colocados em uma máquina para que seja feito o processo de mistura para a confecção do produto final, que leva areia, cimento e os caroços juntamente com os pelos que são fibras naturais do fruto. A mistura é prensada em uma máquina e os tijolos passam por mais alguns dias expostos ao sol para estarem prontos para uso.
"Sendo assim, as fibras naturais e o processo de prensagem são os principais responsáveis pela resistência deste tijolo. O fruto do açaí é composto por duas partes principais: a primeira é a polpa, que representa cerca de 30% em massa do fruto, de onde se extrai o suco do açaí, que faz parte da nossa alimentação. A outra parte é o caroço fibroso, que representa 70% do fruto."
Os caroços são triturados e a massa é misturada com cimento e areia para produzir os tijolos Imagem: Benigna Soares/Oficina Consultoria CI/Norte Energia |
Ela explica que após o processamento para a retirada da polpa, o caroço normalmente é descartado de maneira inapropriada em ambiente urbano e em lixões a céu aberto nas cidades da Amazônia, causando problemas ambientais. "Precisamos refletir sobre esse resíduo e identificar uma forma de beneficiar o meio ambiente e as pessoas com práticas mais sustentáveis", diz Geisiane.
De acordo com o Censo Agro do IBGE, no município de Altamira são produzidas 379 toneladas do fruto ao ano. Por este número é possível se ter uma ideia da quantidade de resíduos gerados.
Mas o que diferencia o tijolo de caroços de açaí dos comercializados na construção civil? A inventora explica que os tijolos convencionais passam por fornos, e esse processo acaba liberando CO² no meio ambiente, pois precisa usar madeira nesta queima (contribuindo para o desmatamento), já os tijolos feitos a partir dos caroços de açaí não vão ao forno, consequentemente evitam emissões de CO², além de ter o custo reduzido e ajudar no isolamento acústico e térmico das estruturas.
O valor final do produto depende de uma série de fatores que serão analisados na etapa de aceleração do projeto, que começará agora, dentro do Programa Belo Monte Empreende. Os processos de pesquisa e de registro de patente e marca estão em andamento, e também o estudo da produção industrial e viabilidade do negócio.
Iniciativa social
Geisiane desenvolveu a sua ideia em uma oficina de programa social da Norte Energia Imagem: Benigna Soares/Oficina Consultoria CI/Norte Energia |
A Ecoa, a superintendente de Sustentabilidade e Socioambiental da Norte Energia, Sílvia Cabral, esclareceu que a companhia entende que tem que atuar como desenvolvedora da região, independentemente de suas obrigações legais. "Temos uma região farta em matéria-prima, pessoas com capacidade de empreender e ideias que suprem as necessidades locais. Tudo isso de forma sustentável e em conformidade com o meio ambiente", disse.
O Belo Monte Empreende é um programa que tem como objetivo formar uma nova geração de empreendedores na região do Xingu. Por meio de oficinas de capacitação, 38 ideias foram acompanhadas. Destas, entre 16 e 18 serão financiadas pela Norte Energia e parceiros do projeto. O Belo Monte Empreende é uma iniciativa social da companhia em parceria com o Centro de Empreendedorismo da Amazônia (CEA). O programa está no segundo ano de execução.
Fonte: Ecoa Uol