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O eneagenário professor da FGV apresentou seu pensamento registrado no mais recente livro publicado de sua autoria, versando sobre o antagonismo entre o liberalismo econômico e o desenvolvimentismo e a atualização deste para se defrontar com os desafios da atualidade.
"As políticas neoliberais, que priorizam o mercado sobre o Estado, têm falhado em entregar crescimento sustentável e, com isso, agravado as desigualdades sociais."
Embora o neoliberalismo preconize a autorregulação do mercado, espera que o Estado lhe seja superior, mas apenas no sentido de garantir o seu livre funcionamento. Mostrou-se hegemônico no mundo ocidental a partir de Reagan, nos EUA, e Tatcher, no Reino Unido, nos anos 80 do século passado, perdurando até uma década após a crise financeira global de 2008. Os EUA, de tradição desenvolvimentista, voltaram a subsidiar a indústria com Biden em 2020, buscando “traze-las para casa”, após Trump, no governo anterior, já ter reforçado a politica aduaneira.
São vários os aspectos do fracasso da ideologia, dos quais Bresser destaca a diminuição do crescimento econômico, as sucessivas crises no mundo, a instabilidade financeira e a concentração de renda.
A alternativa é o desenvolvimentismo, que teve no Japão um dos seus expoentes: intervenção moderada do Estado, em economia de mercado, promovendo o desenvolvimento e a distribuição de renda.
Muitos países aderiram às teses neoliberais, o Brasil entre eles, mantendo o regime mesmo diante do fracasso nas principais economias que adotaram o ideário. As elites nacionais resultaram convencidas da sua conveniência para seus interesses particulares até os dias de hoje.
O professor qualificou a situação brasileira de subdesenvolvimento neoliberal. O famoso tripé de taxas de juros muito altas, câmbio sobrevalorizado e crescimento muito baixo (quase estagnação) foi agravado com Collor de Melo pela abertura comercial e financeira e a privatização selvagem.
Após 50 anos de elevado crescimento, o país submeteu-se aos ditames dos EUA e passou a se distanciar da renda percapita daquele país. Os países da Ásia optaram pelo caminho desenvolvimentista e hoje a China já é competidor dos norte-americanos em um cenário de sofisticação produtiva na indústria e nos serviços, com muita tecnologia e trabalhadores mais qualificados.
Bresser lembrou que a demanda, como proporção da renda, é menor que 1 no caso das comódites, e superior à unidade quando o assunto é a indústria.
Se Getúlio Vargas inaugurou a era desenvolvimentista no Brasil, duas questões ficaram mal resolvidas e podem ser superadas com o novo desenvolvimentismo: o crescimento lastreado na poupança externa – déficit em conta corrente – é insustentável no longo prazo, pois é gerador de endividamento e sobrevalorização cambial; e o crescimento do consumo lastreado na importação, se a produção local não é competitiva.
Além de corrigir essas distorções, é preciso levar em conta que os empresários tornaram-se rentistas – vivem de juros, aluguéis e dividendos e escalam técnicos burocratas para o comando das empresas, que também preferem o ganho fácil da especulação financeira.
São elites não nacionais, que há tempos abandonaram o conceito de Nação e a política desenvolvimentista, encostando-se no setor imperialista para recolher as sobras.
O ICL também recebeu outros economistas para destruir mitos econômicos.
Fonte: Iso Sendacz
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