Cansado de ler notícias falsas na internet? A culpa pode ser sua. Ou melhor, do grupo de WhatsApp da sua família. Um estudo divulgado nesta semana pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo aponta que grande parte dos boatos que circulam no aplicativo são compartilhados através de grupos de família.
Os pesquisadores analisaram mais de 2.500 pessoas com o objetivo de encontrar a origem de falsas notícias que circularam pelo app utilizando o assassinato da vereadora do PSOL, Marielle Franco, e de seu motorista, que aconteceu há pouco mais de um mês.
Os resultados mostram que, ao todo, 1.145 pessoas confirmaram que receberam informações de que a vereadora era ex-mulher do traficante Marcinho VP e havia engravidado aos 16 anos, enquanto outras receberam uma imagem de Marielle sentada no colo de uma pessoa identificada como o criminoso.
A primeira notícia foi recebida por mais de metade das pessoas (51%) por meio de um grupo de família, enquanto apenas 9% tiveram acesso ao boato em um grupo de colegas do trabalho, mesmo percentual dos que receberam por uma mensagem direta.
Mais próximos
Pablo Ortellado, um dos autores do estudo e professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, ressalta que não é possível determinar com certeza o como funciona a distribuição de conteúdo nos grupos de WhatsApp.
“Pode ser apenas que existam mais grupos de família do que grupos de amigos ou de colegas de trabalho e os boatos tenham circulado igualmente em todos eles, mas, como há mais grupos de famílias, nosso estudo tenha apenas captado essa distribuição dos grupos.
Ele aponta, no entanto, que caso a hipótese se prove verdadeira, isso pode acontecer porque as pessoas se sentem mais seguras nesses ambientes para compartilhar notícias, mesmo sem investigar sua procedência. “Pode ser que grupos de família sejam ambientes mais ‘íntimos’ que permitam compartilhar seguramente conteúdos mais especulativos sem que quem compartilhe seja alvo de julgamento”, declara, em entrevista à BBC.
Mais devagar
Por se popularizar em grupos relativamente pequenos, a difusão de uma notícia falsa em um grupo do WhatsApp leva algum tempo, ao contrário do que acontece nas redes sociais. “Foram necessários três ou quatro dias para o boato estar amplamente difundido e, no primeiro dia, o alcance foi bem pequeno. É bem diferente da dinâmica que vemos no Facebook onde a difusão se dá por uma espécie de explosão inicial e está plenamente difundido em pouco mais de 48 horas”, explica Ortega.
Sem confirmação
O estudo descobriu também que a maior disseminação dos boatos aconteceu através de um texto, e não de fotos e vídeos que, em teoria, teriam mais “chance” de serem reais.
“Isso está de acordo com os estudos sobre viés de confirmação, isto é, nossa pouca capacidade de receber criticamente informações que referendam ou confirmam nossas crenças. Menos importante do que dar evidências que amparam o boato é fazer com que ele esteja de acordo com as nossas crenças: no caso, o preconceito de que pessoas da favela tem vínculos com o tráfico”, detalha o professor.
WhatsApp é perfeito para os boatos
O estudo brasileiro foi desenvolvido com base no de um pesquisador israelense, Temer Simon, especialista em comunicação em situações de crise do Departamento de Gestão de Desastres e Prevenção de Danos da Universidade de Tel Aviv. Ele descobriu que o WhatsApp é o local perfeito para começar da divulgar uma notícia falsa. “Você recebe informações no WhatsApp de pessoas em que costuma confiar mais”, opina.
O que fazer?
Ficou em dúvida sobre uma notícia? A primeira coisa a fazer é procurar a fonte. Pesquise se outras páginas divulgaram a informação e sua data. Antes de compartilhar com seus amigos, tenha certeza de que a notícia é verdadeira.
Fonte: Yahoo
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