Com mais e mais mulheres falando abertamente sobre assédio nas ruas,
um homem hétero pode ficar um pouco confuso sobre como se aproximar de
uma mulher em um local público. “Quer dizer que as mulheres não gostam quando eu tiro seus fones de ouvido no metrô?” ele poderia perguntar. “E
se eu ficar muito perto? Elas também não gostam? Não se pode nem falar
com ninguém sem ser rotulado como predador sexual mais! Dane-se o
Feminismo!”
Se você se comporta desse jeito, então sim. Você é um idiota e
provavelmente não deveria falar com ninguém. Nunca mais. Mas vamos supor
que você é apenas um cara legal que ainda não consegue entender a
melhor maneira de falar com uma mulher desconhecida em um espaço
público. É ok ter dúvidas. Namoro e paquera são, em geral, coisas
difíceis de fazer e ainda mais complicadas quando você toma a iniciativa
e se apresenta para alguém do nada. Mas adivinhem? É possível
aproximar-se de uma mulher de uma forma respeitosa e lisonjeira, sem
ofendê-la ou assustá-la com a possibilidade de você ser um tarado no
metrô.
Quando a melhor abordagem não é óbvia, nem sempre é fácil de
discernir o que é bom e o que não é. Pelo bem das relações humanas, aqui
está um guia prático sobre como abordar uma mulher em várias situações.
Na rua
Na rua
Vamos começar com o mais difícil. Digamos que você vê uma menina na rua que se parece exatamente com Amy Pond de Doctor Who [N.T. se você não a conhece, preencha com a moça bonita e cult de sua preferência] ou que está vestindo uma camiseta da sua banda de hardcore obscura dos anos 80 preferida. Você quer dizer “oi!”, claro, mas, primeiro tente descobrir se ela quer dizer “olá” para você ou para qualquer outra pessoa. Você pode achar impossível saber isso, mas as mulheres são seres humanos e, assim como outros seres humanos, mostram sinais quando querem ficar sozinhas. Ela está andando rápido? Não está fazendo contato visual com ninguém? Ela está prestando atenção na calçada ou no celular? Se a resposta for sim, então talvez você deva deixá-la ir, ela provavelmente não quer ser incomodada e você deve respeitá-la. Lembre-se, as únicas pessoas que te devem uma conversa são, na melhor das hipóteses, seu terapeuta ou seu advogado.
E se ela não esta caminhando rápido na direção oposta ou
deliberadamente evitando olhar para as pessoas na rua? Então talvez não
haja problema em aproximar-se (lembre-se, diferentes pessoas reagem às
coisas de maneiras diferentes). O mais importante, como é o caso quando
se aborda qualquer pessoa, é tratá-la como uma pessoa. Não faça
sons de beijo para ela como se fosse um cachorro (nós mulheres
geralmente odiamos isso), não imite o som que você acha que o bumbum
dela faz quando anda (um “oi” é muito mais eficaz do que
“badoombadoombadoom”) e não diga que ela seria mais bonita se sorrisse.
Ela sabe a cara que está fazendo e não quer ninguém dizendo que ela
deveria mudá-la.
Considerando isso, se aproximar de alguém na rua é complicado.
Provavelmente você será dispensado, esteja preparado. Você interrompeu o
dia de alguém, pura e simplesmente, então se responderem negativamente,
a única coisa que você pode fazer é desculpar-se por incomodar (e
fazê-lo rapidamente, sem ser dramático ou criar caso) e educadamente
sair de seu caminho tão depressa quanto possível.
Além disso tudo, está escuro na rua? Se estiver, melhor nem tentar.
Em um café
Mais uma vez, preste atenção no que ela está fazendo. Ela está
estudando? Digitando apressadamente em seu computador? Se estiver, ela é
uma moça com um prazo a cumprir e, interrompendo-a, você corre o risco
de ser um idiota. Se você não desistiu, então, o mais importante a fazer
é não constrangê-la ou deixá-la desconfortável a ponto de sentir que
precisa ir embora. Tente pegar uma mesa que não esteja diretamente em
seu campo de visão, desta forma ela não vai precisar desviar o olhar
para baixo caso dispense você. Tente se aproximar dela como se estivesse
de saída, peça desculpas por interrompê-la (na verdade, a maioria das
pessoas não se importa de ser incomodada se você, educadamente,
reconhecer a possibilidade de que pode estar incomodando) e dê seu
recado com gentileza e confiança. Se ela aceitar, ótimo! Daqui há alguns
meses você pode estar discutindo sobre lugares à mesa para o seu
casamento indie ou organizando um swingue na casa nova de vocês. Se ela disser que não, gentilmente responda com um “Ok, legal. Só pensei em perguntar.” E, em seguida, deixe-a sozinha.
Se é um lugar que ambos frequentam, muito melhor. Comece dizendo
“oi”, aumente para um “tudo bom?” e estabeleça um relacionamento. Dessa
forma, quando você convidá-la pra sair, ela vai ser muito mais inclinada
a pensar em você como o cara legal do café, e não como o esquisito que
sempre tenta interrompê-la enquanto ela lê “A Visita Cruel do Tempo”.
Claro, ela ainda pode dizer não e, a menos que ela diga explicitamente o
quanto quer sair contigo, batendo uma punheta para você no banheiro
enquanto conversam, você tem que desencanar. E lembre-se: ela não é uma
vaca. Ela apenas não está interessada.
No transporte público
Lembre-se que as mulheres lidam com o assédio sexual no transporte público o tempo todo. A maioria de nós fica muito atenta quando pega o trem ou ônibus, já que existe uma possibilidade maior de lidar com alguma merda. Não estamos sendo paranóicas ou defensivas quando não queremos falar com você. Estamos lembrando de ontem mesmo, quando alguém literalmente esfregou seu pau nu em nós (ah, segundas-feiras!). É fácil ficar na defensiva e dizer: “Bem, eu nunca faria isso”, mas tente se lembrar de que a maioria de nós não é vidente e não temos idéia do que você faria ou não. Meu ponto é que, se você está cantando meninas no metrô, espere levar um fora. A maioria de nós não gostaria de ser convidada pra sair estando em espaço fechado que é muitas vezes usado como banheiro. Uma vez um homem no trem comeu um frango inteiro, de luvas, sem tirar os olhos de mim. O transporte público não é um espaço seguro.
Lembre-se que as mulheres lidam com o assédio sexual no transporte público o tempo todo. A maioria de nós fica muito atenta quando pega o trem ou ônibus, já que existe uma possibilidade maior de lidar com alguma merda. Não estamos sendo paranóicas ou defensivas quando não queremos falar com você. Estamos lembrando de ontem mesmo, quando alguém literalmente esfregou seu pau nu em nós (ah, segundas-feiras!). É fácil ficar na defensiva e dizer: “Bem, eu nunca faria isso”, mas tente se lembrar de que a maioria de nós não é vidente e não temos idéia do que você faria ou não. Meu ponto é que, se você está cantando meninas no metrô, espere levar um fora. A maioria de nós não gostaria de ser convidada pra sair estando em espaço fechado que é muitas vezes usado como banheiro. Uma vez um homem no trem comeu um frango inteiro, de luvas, sem tirar os olhos de mim. O transporte público não é um espaço seguro.
Então, você decide ir enfrente e falar com ela. Tente elogiando em
algo que não seja físico ou sexual. É mais fácil do que você pensa: “tênis incrível.” Ou: “Isso é uma bolsa-carteiro antiga? Eu estou querendo uma, mas estou preocupado se as alças não vão machucar meus ombros.”
(Se ela te deixar experimentar a bolsa, considere fugir com ela. Só
porque você não é um pervertido, não significa que você não pode ser um
ladrão). Se ela parece aberta à conversar, bata papo amigável e
tranquilamente. Se ela não der abertura, sorria educadamente – mais uma
vez, educadamente – e deixe-a sozinha. Metade das preocupações que as
mulheres têm no metrô é que alguém se sinta no direito de sair nos
chamando de vaca só porque não queremos ser incomodadas. Não seja esse
alguém.
Ah, e por favor, não se aproxime de nós quando estamos lendo ou
ouvindo música. Essas são coisas que fazemos para não sermos
incomodadas. Metade das vezes os fones de ouvido que estamos usando não
estão nem ligados.
Eu trabalhei como garçonete em um restaurante por muitos anos e vi
minhas colegas serem abordadas de várias formas diferentes, e alguns
métodos sendo muito mais bem sucedidos do que outros. Se você acha que
está realmente fazendo sucesso com a garçonete que te atende, pare e
lembre-se que ela talvez não esteja tão na sua, quanto você está na
dela. Embora, provavelmente, ela seja uma pessoa adorável na vida real,
uma grande parte da renda dela (e de qualquer garçonete) é baseada na
capacidade de fazer você e o resto da mesa gostarem dela. Ser legal com
você e fazê-lo sentir-se bem-vindo é o seu trabalho.
Se você está sentado ao lado dela em um avião
Não. Deixe-a em paz. A menos que nós estejamos no 777 da Rihanna ou a
sua voz guarde o segredo do emagrecimento rápido, nós não queremos
falar com você.
É claro que existem exceções para todos estes conselhos. Talvez seus
avós se conheceram quando o seu avô apertou o seio da sua avó no meio
da avenida da cidade. Talvez um de seus amigos conheceu a namorada
quando ele a parou para perguntar o que ela estava lendo. Essas coisas
podem acontecer. Além disso, pessoas diferentes gostam de coisas
diferentes. Seguindo toda essa lista ainda pode acontecer que você
ofenda alguém — porque todo mundo tem seus problemas.
Além disso, e eu sei que isso vai contra tudo o que a frenologia
diz, mas as mulheres não são idiotas. Na verdade, muitas de nós são
realmente muito boas em ler as pessoas. Se as mulheres sempre te
respondem como se você fosse esquisito e assustador, então as chances
são de que você está agindo como um sujeito esquisito e assustador. O
problema é você. Por outro lado, se você fizer um esforço para ser
educado, respeitar o nosso espaço e reconhecer que não te devemos nada
(porque, oi, não devemos mesmo), então vamos entender assim também. Isso
significa que nós vamos com certeza sair com você? Não, mas com certeza
aumenta suas chances e isso faz de você muito menos idiota.
Muito longo? Nem leu? Seja educado e respeito o espaço dos outros. Fim.
Originalmente publicado com o título: How to Talk to a Woman Without Being a Creep, no site americano Jezebel.com
Nota da tradutora:
Não endosso tudo deste texto. Há algumas ideias que parecem bem
radicais. Por exemplo, me parece perfeitamente educado se desculpar por
interromper e perguntar o que uma pessoa está lendo — contanto que se
esteja atento à possível falta de vontade de interagir da moça — e
concordo com a autora, é fácil ver quando alguém não quer conversar.
Mesma coisa com os aviões — acho que depende da sensibilidade de não
insistir para não constranger.
Mas a ideia principal está clara: nós mulheres, mesmo as mais lindas e
irresistíveis, temos o direito a não interagir, e se um cara pretende
ser bacana e interessante para as mulheres de maneira geral, não é
enchendo o saco de uma especificamente que ele vai conseguir isso. Se
esta não estiver interessada, seja educado e aceite o fora sem
constrangê-la. E se você for educado, pode ter certeza: desejamos muita
boa sorte com as próximas. Sabe como é, algumas feministas são
heterossexuais e até dão bola pra rapazes que as paqueram por aí.
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