terça-feira, 19 de setembro de 2023

Humilhação de boas-vindas



Tapas, socos e cuspe no rosto, humilhações públicas e em meios digitais. A lista de constrangimentos relatados pelos calouros no trote da faculdade de medicina da Unisa (Universidade Santo Amaro), em São Paulo, é extensa. Inclui faxinar a casa de veteranos, ajoelhar-se para ouvir xingamentos aos gritos, aceitar apelidos --inclusive de cunho racista--, seguir regras de vestimenta e de circulação, além de enviar ou receber fotos de genitais masculinos por redes sociais ou aplicativos de mensagens. É cobrado também que se demonstre conhecimento sobre o histórico de uma cultura de abusos que se arrasta há anos, de acordo com alunos e ex-alunos, que serão apresentados com nomes fictícios.

O UOL investigou por dois meses relatos que envolviam estas práticas na universidade.

A lei 10.454 do estado de São Paulo proíbe trotes "sob coação, agressão física, moral" ou outros constrangimentos que representem risco à saúde ou à integridade física dos alunos desde 1999. Quem pratica corre o risco de expulsão e de sofrer sanções penais e civis. As universidades devem adotar medidas para impedir o trote e punir os infratores. Caso contrário, responderá por omissão ou condescendência.

A reportagem ouviu estudantes e egressos do curso de medicina na condição de anonimato e teve acesso a documentos e conversas de grupos no WhatsApp, além de um perfil no Instagram com denúncias sobre os trotes, que saiu do ar. "Contas que violam as Diretrizes da Comunidade do Instagram podem ser removidas", afirma a Meta, empresa dona da rede.

Procurada ao menos 13 vezes pela reportagem, que chegou a ir a 2 dos 4 campi, a Unisa não se pronunciou. A atlética negou relação com os abusos e, assim como o centro acadêmico, afirma ser contra o trote.

No últmo final de semana, ganharam repercussão e provocaram revolta vídeos nos quais alunos homens de medicina da mesma universidade e do Centro Universitário São Camilo abaixam as calças durante um torneio amistoso de vôlei feminino.

A reportagem ouviu relatos de que os trotes violentos acontecem pelo menos desde 2009.

A coerção ocorre não só no próprio campus onde fica o prédio da medicina, no Jardim das Imbuias, zona sul de São Paulo, mas também em repúblicas, festas, viagens a sítios no interior e nos jogos universitários. Parte das imposições consta em um manual enviado por celular aos novatos já nos primeiros dias de aula. Quem se submete cria, em troca, a expectativa de conseguir uma vaga de residência no futuro. Quem se recusa a participar sofre com as consequências da exclusão mesmo depois de formado.

Em um informe de 2011, a Unisa anunciou a proibição de "qualquer tipo de trote que cause constrangimento aos alunos", de acordo com orientações do Ministério Público. Em janeiro de 2022, a universidade lançou a página Diga Não ao Trote, que reforça a mensagem da proibição e a "importância de uma recepção acolhedora".

Veja a matéria completa da Uol no link abaixo: 

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