domingo, 23 de março de 2014

Fracassa a "Marcha da Família" dos fascistas. "Deus não deixa"


RIO, SÃO PAULO, RECIFE - A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, uma reedição 50 anos depois do que ocorreu em 1964, aconteceu neste sábado em diversos estados com baixa adesão e uma série de incidentes. No Rio, terminou em pancadaria o ato, que apoia uma intervenção das Forças Armadas no país. O movimento, com cerca de 150 pessoas, segundo a Polícia Militar (PM), se encontrou com um grupo de, pelo menos, 50 manifestantes contrários à ditadura militar e que se denominam Movimento Antifascista.

A confusão ocorreu em frente ao Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste, no Centro, quando os dois grupos começaram a se hostilizar. O local foi o mesmo onde o cinegrafista da Band, Santiago Andrade, foi atingido por um rojão durante uma manifestação, em 6 de fevereiro deste ano. Andrade teve morte encefálica quatro dias depois.

Pelo menos 150 policiais do Batalhão de Grandes Eventos, que faziam um cordão de isolamento, intervieram na confusão. Neste momento, um dos integrantes da Marcha da Família com Deus pela Liberdade furou o bloqueio e, em seguida, trocou socos e chutes com o grupo rival. Houve correria até a Central do Brasil. Os policiais tentaram identificar sem sucesso as pessoas que participaram do tumulto.

A estação do metrô da Central fechou as portas e os comerciantes fecharam suas lojas com medo de um possível quebra-quebra. A Central do Brasil também teve seus acessos fechados por alguns minutos. Não houve feridos. A Polícia Militar não informou se houve pessoas detidas.

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade saiu por volta das 15h40m da Candelária ocupando a pista lateral da Avenida Presidente Vargas até chegarem no Palácio Duque de Caxias.

Entre os participantes estavam militares, estudantes e simpatizantes com o movimento. Um dos presentes foi o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que é militar. O segundo sargento do Exército reformado, Wilton Kapps Higgins, de 69 anos, participou da passeata. Em 31 de março de 1964, ele estava de serviço no 2º Regimento de Infantaria, na Vila Militar.

- Eu estava de prontidão para aquele movimento - contou Higgns.

A primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade ocorreu em 19 de março de 1964, na Praça da Sé, em São Paulo. Segundo historiadores, o movimento chancelou o golpe militar. Onze dias depois, o então presidente João Goulart, o Jango, deixava o poder.

Durante a passeata desta sábado, o grupo gritou “Fora PT” e “Fora Dilma”. Os participantes carregavam bandeiras do Brasil e cartazes, um deles dizia: “Intervenção Militar Ja! O Brasil exige: ordem e progresso”. Filha de militar, a artesã Sulla Rangel, de 63 anos, usava uma camisa com um foto da presidente Dilma Rousseff, onde se lia: “Procurada. Recompensa: liberdade do povo brasileiro. Dilma Rousseff, procurada por enganar milhões de brasileiros e implantar sua ditadura comunista. Inimiga pública número 1”. No período da Ditadura Militar, Dilma foi presa e torturada.

- Precisamos de uma intervenção militar. É a única forma de acabar com o que está aí. O país está a um passo de se transformar em uma Venezuela - afirmou Sulla Rangel.

Já no grupo do Movimento AntiFascista, apesar da lei estadual que proíbe o uso de máscaras em manifestações, um grupo de mascarados fazia parte e chegaram a queimar a bandeira do Brasil. Segundo a Polícia Militar, o grupo era composto por 50 pessoas e, após o confronto, se deslocaram para o antigo prédio do Dops, entre as ruas dos Inválidos e da Relação, no Centro, onde ocorreu uma ação de ocupação pacífica.

Em Ipanema, na Zona Sul do Rio, a Marcha com Deus e o Diabo na Terra do Sol, marcada por uma página no Facebook e de oposição à Marcha da Família com Deus pela Liberdade, tornou-se o movimento do eu-sozinho. Com três mil convidados e 280 confirmações pela rede social, o fotógrafo e mediador da página José Caldas, esperou sozinho por um público que não compareceu à praia de Arpoador na tarde deste sábado.

- Criei o evento há cinco dias após constatar algumas mensagens contra a marcha da família tradicional. Mas terminou não acontecendo. Foi válido pela discussões na internet - disse o organizador antes de ir embora.

Em SP, bengalada em fotógrafo e briga entre grupos

Em São Paulo, dois protestos reuniram grupos de ideologias distintas. Enquanto que na Praça da República manifestantes pediram a volta dos militares, na Praça da Sé cerca de 500 pessoas gritavam contra “fascistas e golpistas”. Os dois grupos chegaram a ficar a 500 metros de distância um do outro, no momento em que ambos saíram em marcha, mas em direções opostas. A Polícia Militar (PM) acompanhou os dois atos.

Na Sé, ao final da Marcha da Família, quatro pessoas foram detidas após uma confusão que começou quando uma mulher pichou uma faixa que pedia intervenção militar. A moça chegou a ser segurada por um dos manifestantes, mas conseguiu fugir, correndo pela Praça da Sé. Um grupo de ao menos 15 pessoas foi atrás dela, até que a mulher se escondeu em uma farmácia, protegida por policiais militares. A moça foi detida por crime ambiental.

Na frente da farmácia, dois homens brigaram. Um deles, que estava à frente da passeata o tempo todo e coordenava um grupo de carecas que era chamado pelos outros de “resistência”, deu uma bengalada em um homem, que estava protegendo a moça que fugiu. O homem tirou a bengala do agressor e bateu nele. Acabou detido. O agressor da bengala saiu sem ser revistado pela PM. Questionado pela reportagem sobre o que aconteceu, respondeu que não queria dar entrevistas.

Os outros dois detidos foram um homem que atirou uma lâmpada fluorescente nos policiais e outro rapaz que jogou pedras em um policial. Um PM acabou ferido no braço. Um morador de rua, com a testa sangrando, disse que foi agredido pela polícia durante a confusão.

A passeata a favor da família reuniu cerca de 500 pessoas e foi marcada por pequenos tumultos. Ainda na concentração na Praça da República, dois homens ouviram gritos de “Fora, PT” porque usavam roupas vermelhas, embora tenham declarado apoio à causa. Um fotógrafo foi agredido com um golpe de mala na cabeça. Na Rua Xavier de Toledo, fãs do Metallica e do Motorhead foram xingados de “lixo” porque vestiam roupas pretas e foram confundidos por black blocs.

Entre os manifestantes, um buscava assinaturas para um abaixo-assinado que tem como objetivo criar o Partido Militar Brasileiro (PMB). A cada 15 minutos, o grupo canta o Hino Nacional.

Já os manifestantes antifascistas, cerca de mil, segundo a PM, seguiram da Praça da Sé, onde ficaram até pouco depois das 16h, em direção ao prédio do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Luz, também na região central, onde hoje funciona o Museu da Resistência. Jovens mascarados acompanharam o protesto. Alguns deles, aos berros de “Não Vai Ter Copa". Duzentos PMs acompanharam a marcha antifascista.

A concentração aconteceu em frente à Catedral da Sé, onde militantes do PCO e do PCdoB, movimentos sociais, anarquistas, punks, feministas, sem-terra e representantes do chamado black blocs entoavam gritos de “fascistas e golpistas, não passarão”. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo da Rua, acompanharam o ato. Enquanto caminham, os manifestam carregavam fotos de presos políticos desaparecidos na ditadura. Depois, na porta do antigo Dops, homenagearam as vítimas da ditadura, pedindo punição a torturadores e assassinos do regime militar.

Os dois atos terminaram no início da noite.

Atrito entre integrantes da marcha, black blocs e integralistas no Recife

Em Recife, um grupo de cerca de 30 pessoas se concentraram na Praça do Derbi, próxima ao Centro, com bandeiras do Brasil e um cartaz improvisado com a frase “meu Brasil é verde e amarelo, sem foice e sem martelo”. Segundo tenente da reserva do Exército, Hildernardo Ferreira de Souza, 50, o país precisa de um “ajuste político”, o que só seria possível com a volta dos militares ao poder.

- Estão todos os partidos corrompidos, envolvidos em esquemas, escândalos, corrupção. A gente não é de nenhum partido, mas quer que o Exército volte, porque respeita o povo brasileiro - disse.

Para Cibele Silveira Alves Gomes, 51, pesquisadora, a iniciativa sugerida pelo ex-militar também é necessária no momento.

- Com certeza tem que dar um jeito, uma arrumada na nossa casa. Justiça não há e a mídia está amordaçada. Os políticos roubam, vão presos, mas não devolvem o nosso dinheiro. E a presidente sempre arranja um dinheiro para ajudar Cuba de Fidel Castro ou os ditadores da África - reclamou.

Um momento de tensão aconteceu quando a marcha encontrou com grupos de integralistas e de black blocs.
 
Outra Informação do blogue, em Belo Horizonte 50 pessoas e em Brasília 12.
 

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