Do Blog O Esquerdopata 
Eles Venceram - Walter Hupsel
Há algum tempo muitos analistas vêm  falando do crescimento da extrema-direita na Europa e no mundo. Eu mesmo  já escrevi aqui neste espaço algumas vezes sobre o tema.
Como em todo discurso de ódio,  que a caracteriza, a nova extrema-direita precisa encontrar seu inimigo.  Se antes este era encarnado nos judeus apátridas, que “vagavam” pela  Europa prontos a “pilhar” os recursos dos cristãos, hoje o inimigo  atende pelo nome de muçulmano. São seres esquisitos, que às vezes usam  uma espécie de turbante, que não acreditam no verdadeiro filho de deus, e  que, algumas vezes, interpretam literalmente o que seu deus teria dito  através do profeta Maomé.
Este crescimento não é nem tão  novidade assim, e tem sua origem no fim do Bloco Soviético. Por um lado,  os europeus “ocidentais” se viram ameaçados com aquela massa de pessoas  procurando empregos, ansiosos em entrar no modo de vida capitalista.  Isso levou a uma depreciação do valor do trabalho. Os novos bárbaros  vinham do leste para destruir o sonho da Europa Cristã capitalista.
Por outro lado, os que viviam  dentro da cortina de ferro se viram órfãos, jogados num mundo que  desconheciam, e por isso temiam. Muito do movimento de completar o  círculo e se voltar à extrema-direita foi feita por estes europeus do  leste, numa curiosa contradição. Os ocidentais se sentiam invadidos e  queriam proteção contra os invasores. Os orientais, novatos no mundo da  competição, queriam o mesmo.
Em comum apenas o ódio contra  aquele passageiro que chega no ônibus já cheio, cuja presença vai encher  ainda mais o veículo, e que, por isso, é  visto com desconfiança pelos  “nativos”. Estes, os mais recentes, são aqueles que não conseguem ser  abarcados pela definição de Europa, os muçulmanos. Os ódios se juntam  contra o terceiro.
Mas isso não interessa tanto.  Interessa como a mídia repercutiu os atentados na Noruega na semana  passada. Todos os veículos “ocidentais”, sem nenhuma exceção, correram  para dizer que seriam obras de…. muçulmanos. As razões beiravam a  esquizofrenia coletiva: desde a Líbia (com Kadafi relembrando os tempos  da PanAm), até mesmo o Acordo de Paz de Oslo, que deveria por fim ao  conflito Israel-Palestina, assinado por Yitzhak Rabin (Israel) e Yasser  Arafat (OLP), mediado pelo então presidente dos EUA, Bill Clinton.
Os “especialistas”, atônitos com  o ocorrido, tentaram, de toda e qualquer maneira, encaixar uma  explicação qualquer que remetesse aos muçulmanos. Qualquer coisa,  naquele momento, servia a eles, nos seus delírios, nas suas  elucubrações. Diria eu que estavam estado de êxtase hipnótico, apontando  o dedo rua afora e vendo fantasmas em todos os lugares.
Desde os primeiros momentos já  estava claro, pra qualquer pessoa que tentasse entender o que se  passava, que o alvo dos atentados não era a Noruega, ou mesmo o governo,  mas sim um partido, uma posição política. Era claro, logo, que o  atentado fora levado a cabo por razões internas.
O alvo, o modus operandi, tudo  indicava solidamente pra nacionalistas noruegueses, para  extrema-direita. Mas a mídia olhou, e não viu. Não quis ver.
Quando finalmente enxergou, as  características “religiosas” do assassino, do terrorista norueguês,  foram esquecidas. Ele tornou-se uma radical louco, um homem perturbado  aos olhos dos jornais. Afinal era um de nós.
A mídia, seus intérpretes, seus  analistas com doutorado em grandes universidades, especialistas em  Relações Internacionais, em terrorismo, compraram acriticamente o  discursos da extrema-direita do inimigo da Europa.
Neste quesito, tristemente posso falar: ela venceu. Pautou a mídia, espalhou o medo do outro e, como demonstrou, conquistou mentes.

 
 
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