O jurista Ives Gandra (foto), 77, publicou hoje (26) artigo na Folha de S.Paulo criticando a ação do procurador Jefferson Aparecido Dias, do Ministério Público Federal em São Paulo, pela supressão da frase “Deus seja louvado” das cédulas do real, em obediência à laicidade do Estado brasileiro expressa na Constituição.
Ele não se limitou a contestar a proposta em si, empenhando-se também em atacar Dias ao afirmar que o procurador “deveria ter mais o que fazer”.
Gandra é um ilustre integrante da direita religiosa. Ele é filiado à Opus Dei, que representa a ala mais retrógrada da Igreja Católica brasileira. Colaborador frequente da página de opinião da Folha, ele já comentou ali, por exemplo, o que entende ser “o fundamentalismo ateu”.
Ao atacar a pessoa de Dias, ele repetiu o que já tinha dito outros próceres da direita religiosa e política, como o pastor Silas Malafaia e o senador José Sarney, o introdutor de Deus no real, na época em que foi presidente do Brasil.
No dia 19, em uma entrevista ao portal Terral, Dias rebateu a crítica de que deveria procurar algo mais útil para fazer. Ele informou que o MPF tem feito muita coisa, como um acordo com o INSS (Instituto Nacional da Seguridade Social) que beneficiou 3 milhões de pessoas.
O procurador informou que recorreu à Justiça em defesa do Estado laico em resposta a uma representação de um cidadão ateu que se sente incomodado com a alusão a Deus no dinheiro. “Se chegar uma representação pra mim, independentemente de qual for a temática, sou obrigado a investigá-la”, afirmou. “É minha obrigação legal.”
Gandra repetiu o refrão de que o procurador não tem o que fazer |
Em seu artigo, Gandra afirmou que se tem “confundido Estado laico com Estado ateu”.
“Estado laico é aquele em que as instituições religiosas e políticas estão separadas, mas não é um Estado em que só quem não tem religião tem o direito de se manifestar”, disse. “Não é um Estado em que qualquer manifestação religiosa deva ser combatida, para não ferir suscetibilidades de quem não acredita em Deus.”
Para ele, tirar a referência a Deus nas cédulas seria uma “ditadura da minoria [ateus e agnósticos] contra a vontade da esmagadora maioria da população [os cristãos]”.
Gandra exagerou porque, afinal, ninguém está confundindo Estado laico com Estado ateu, muito menos o procurador Dias, que é católico praticante.
E, ao que consta, não há nenhum movimento organizado para acabar com o direito à manifestação dos religiosos. Apenas se argumenta que o real não deve ser usado como mídia desse tipo de manifestação, em respeito à Constituição. O que, convenhamos, não é pedir muito.
Foto: Do alto postada pelo blog
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